domingo, novembro 21, 2004

Reflexão ou introspeção

Um dia o Sol nasceu na minha janela, não pediu licença, nem fez uso daqueles proformes protocolares habituais, chegou e entrou, a verdade é que a sala da minha janela se tornou mais quente.
Foi então que percebi que havia um outro mundo, com muito mais cores do que julgava até então, percebi que afinal todos temos uma parte física, mundana, terrena e uma outra parte, bem importante que vive dentro de nós, mas que geralmente fica nas profundezas do nosso ser e que distraídos nem damos por ela, essa é a nossa ala da espiritualidade, aquela que os poetas chamam alma, a parte mais bonita de nós. È nesse cantinho que guardamos as pessoas bonitas, é aí que residem os afectos, é aí que sentimos aquele toquezinho especial que nos diz que amamos esta ou aquela pessoa, que amamos esta ou aquela de uma forma especial, digamos que é nessa sala onde o Sol entra sem pedir licença, que vivem os sonhos, a saudade, o amor, o carinho, a vontade de abraçar, a vontade de beijar, a vontade de fazer amor, que não tem nada que ver com fornicar, é aí que sentimos que nos deliciamos com um texto de prosa bonita, com um poema, com um livro, com um filme, com uma música, com uma foto, com uma pintura, é nessa sala que vivem as sensações e as emoções, este é o jardim do nosso corpo.
Na verdade não abrimos as portas do jardim a quem queremos, não somos nós que temos a chave, as portas abrem-se ou fecham-se por elas próprias, são elas que sentem que se devem abrir os que se devem fechar e por isso não mostramos a todas ou a qualquer pessoa o nosso jardim. Não se passeia lá quem quer ou queremos, passeia-se lá quem tem o dom de se entender com as portas e mesmo com as manhas da fechadura.
Levamos por vezes muitos anos a descobrir esta parte de nós, alguns possivelmente nunca a descobrem, são os mais frios, os mais tristes, aqueles que resumem tudo a números, outros descobrem-na bastante cedo, esses são os de maior sensibilidade. Geralmente há sempre alguém que nos leva a essa descoberta, essa é talvez a grande descoberta da nossa vida, a grande paixão, aquela a quem amamos verdadeiramente, aquela que haja lá o que houver, não a queremos perder, não a conseguimos eliminar do nosso caminho, do nosso pensamento do nosso ser.
Por isso digo ainda de bem que um dia o sol nasceu na minha janela, ou melhor numa das minhas janelas, esse foi o dia em que o sol nasceu dentro de mim, sem que eu o autorizasse, sem que ele me pedisse licença, nasceu e mais nada.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Eco de um grito

Que se quebrem as ampulhetas
e todas as máquinas que medem o tempo.
Que a noite chegue rápido
envolva as palavras e os cansaços
em sons vindos das nuvens.
Que o meu grito corte
transversalmente o silêncio do breu
e se soltem sóis, estrelas, mares e sonhos.
Que as plantas floresçam e água jorre das fontes.
Que cantem os rios e as brisas
que se juntem ao arco Íris na dança das sete luas
que se desfaçam encruzilhadas
que se rasguem caminhos e cantem as papoilas
que o meu sorriso regue os malmequeres, as urzes os rosmaninhos
e o brilho dos teu olhos...


Hoje recebi uma mensagem bonita de uma amiga do peito, e tocou-me muito fundo, há dias em que estamos mais frágeis, mais sensiveis, pedi-lhe autorização para pegar na mensagem e tentar complmentá-la, deu este resultado eu gostei ela tb, aqui está um "Eco de um grito".

quarta-feira, novembro 03, 2004

Caminho com a Lua... de mãos dadas junto ao mar

Caminho com a Lua... de mãos dadas junto ao mar
as pegadas lado a lado ficam escritas na areia...
ao amanhecer, sento-a no colo e digo-lhe
quem ama nunca está só...


O maltês

Pois é isto tem andado mau de tempo, acaba um evento começa outro, quando não são 2 ou 3 em simultâneo.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Soneto

Tu és a rubra que salpica as searas
és aquela de quem sinto saudade
Sol que brilha, mar azul, sensualidade
fonte de vida onde bebo águas claras.

Nas margens deste rio com que sonharas
crescem pimpilhos, afectos em liberdade
amar-te é melodia, cantata de suavidade
barco solto, barco de sonhos, sem amarras.

Tu és aquela de quem não me consigo separar
Flor do campo que não me canso de amar
jardim florido de encantos e sensibilidade.

Contigo descobri o mais bonito que a vida tem
aprendi a tecer afectos no tear de quem olha mais além
onde há um infinito azul do nobre sentimento, realidade.


De momento o tempo é pouco, esta coisa de ser Maltês, tem a outra coisa de muitas vezes não estar em casa, e de não se poder ir beber um copo de três à taberna com os amigos, muito trabalho por Faro.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Silenciada

Silenciada a tua boca húmida que beijei
falam os teus olhos que evitam os meus
o silencio é a fuga para o longe... para o mais longe de ti
e...de mim

Sei que és profanada no altar de um deus que temes e não amas
onde finges orgasmos hilariantes e profanas o sentimento.

Maria do mar, dois filhos, um por amor... e outro por descuido

segunda-feira, setembro 27, 2004

Maria do mar

Mestre Joaquim antigo marinheiro, agora pescador reformado, tornara-se num pescador de sonhos.
Quem por aquela praia passasse havia de ver na areia aquela silhueta franzina, sentada, de olhos postos no horizonte. Era ali o seu lugar, dizia que era ali o seu cais de partida, um dia quando a sua hora chegasse, queria terminar tudo ali, era aquela a última imagem que queria levar consigo. Decidira há muitos anos, quando em pleno Golfo da Biscaia se salvara de um naufrágio, que o mar o Sol aquela imensidão de areia, o voo livre das gaivotas e a melodia das vagas seria a sua última bagagem.
Era Domingo de manhã, o céu estava limpo como que pintado de um suave azul e o Sol começava a aquecer a areia apenas o mar que carinhosamente acariciava as rochas, quebrava o silencio mas não a tranquilidade daquela praia e daquele sono.
Mestre Joaquim, acordou estremunhado, parecera-lhe ouvir um choro, sim, um choro de criança, parecera-lhe um sonho, mas...ao levantar os olhos, ao longe no cimo de uma rocha um pequeno vulto parecia agitar-se, a maré estava a ficar cheia e a visão turva que a idade lhe trouxera, em nada ajudava, apenas o som lhe confirmava o choro, um choro que nunca lhe fora familiar, o ouvido não o traia, continuava a ser capaz de ouvir o zumbido de um mosquito.
De rompante entrou na água e tentou nadar, o mais rápido que o que restava daquele homem do mar conseguia, no entanto aquele mar calmo parecia-lhe ter agora mais força do que o mar enfurecido do Golfo da Biscaia, que há muitos anos vencera, esbracejava e esperneava, mas parecia não sair do mesmo sitio tal como o choro da criança, o que de alguma forma lhe dava força para continuar a debater-se com o mar.
De repente, aquele som pareceu-lhe mais próximo, mais intenso, foi como que se aquele choro lhe saísse de dentro da alma, dera um impulso mais forte ao corpo, acabara de ultrapassar a zona de rebentação como que impelido por uma força que nunca conhecera, uma força que lhe advinha de um deus, mais temido do que amado.
Aos poucos o cansaço ia tomando conta de si, mas mestre Joaquim tinha sido temperado com o sal do mar, antes partir do que vergar, desistir não fazia parte dele e à medida que a maré subia e se aproximava mais e mais do topo do rochedo, o choro tornava-se mais próximo por fim conseguira alcançar o pequeno rochedo onde se encontrava a criança, abriu a sua camisa, com as pernas e o tronco formou como que uma concha onde a aninhou para poder descansar o tempo que a maré lhe permitisse. Sabia que o regresso à areia seria mais fácil, não teria que nadar contra a maré, bem pelo contrário, bastar-lhe ia quase simplesmente flutuar e aproveitar a força das pequenas vagas, pois há alturas em que o mar traz tudo para terra, algumas... coisas desnecessárias que ele repele, outras coisas muito bonitas, como os sonhos ou a Vida.
Conta-se que Mestre Joaquim, a partir desse dia, se tornou um homem diferente, todos os dias continuava a ir para a praia, acompanhado da criança, mas sentia-se mais bonito, esquecera-se o que o atormentava e voltou a guardar aquilo a que chamava a sua bagagem, numa velha arca de madeira, perfurada pelo caruncho, na casa das coisas inúteis, onde proliferava aquele pó amarelo, fininho e muitas teias de aranha, grandes e negras.
Quem por aquela praia passasse, lá podia encontrar dois tempos que brincavam, como se fossem apenas um tempo, onde vivia a esperança e a alegria, de paredes de meias com um castelo... de areia...que o mar era incapaz de fazer desabar.
Muitas vezes Mestre Joaquim acordava, a meio da noite, sentava-se numa esteira junto de uma pequena cama improvisada, só para ver a criança dormir e pensava para com ele, como foi bom encontrar-te, Maria do Mar...



Esta é a minha homenagem aos organizadores das "Palavras Andarilhas", aos contadores e às outras pessoas bonitas, que nelas participara, para mim as "Palavras Andarilhas", são entre outras coisas, uma reunião de pessoas bonitas, gente que ousa sonhar e fazer sonhar, é sem dúvida a iniciativas de maior qualidade da Camara Municipal de Beja e da Biblioteca Municipal

sábado, setembro 18, 2004

Vem...

Há dias em que me apetece mostrar-te o mar, anda...dá-me a tua mão!
Quero sonhar-te entre algas e pequeninas conchas.
Quero mostrar-te o nascer do sol, em todo o seu explendor,
quero que sintas...que ele também é teu, que... também o podes ter dentro de ti.
Vem comigo, dá-me a tua mão, vamos caminhar... para além do horizonte.
Quero mostrar-te a infinidade do mar...e a pureza das suas águas.
Mais tarde, ao final do dia, veremos o por do sol
O mais belo de todos os pores do sol ...
Quero que sintas a magia das suas cores, acredita... elas também são tuas.
Vem...vem sentir-te embalada nas vagas ...e ouvi-las, quando docemente embatem no costado deste barco... que é a vida.
Por entre planetas e cometas, mostras-me o sorriso da lua e dás-me a tranquilidade do mar...
Jogaremos o jogo das estrelinhas e aprenderemos a distingui-las pelo brilho.
Ao olhá-las dirme-ás
- Á noite gosto de escutar as estrelas.
É como escutar quinhentos milhões de guizinhos...
Aprenderei a ouvi-las e pela madrugada descobrirás que todos os navios deixam o seu rasto no mar...
Vem...Vem comigo... dá-me a tua mão...




Nota: Há algumas casas onde este maltês gostaria de ir deixando uma mensagensinha de condu em vez, mas a verdade é que são fechadas à chave e não sei abri-las, estou a lembrar-me do caso do "monte da" Pedra, creio que do "monte do" Sonho Meu, assim somo assim agradecia que me explicassem como se abre a fechadura :)

terça-feira, setembro 14, 2004

Papoila

É a sensação de belo
que me encanta em ti

papoila

a mais bonita flor dos trigais
ondulantes e verdes
que faz renascer o mar.


foto: o maltês

quarta-feira, setembro 08, 2004

Conto de Luamar

Luamar era filha do Mar e da Lua.
Tinha nascido numa rocha de bonitas formas entre gaivotas e andorinhas do mar.
Desde muito cedo adorava olhar o horizonte.
Sentava-se no ponto mais alto dessa rocha e aí tecia todos os seus sonhos.
Voava com as gaivotas e por vezes chegava até a pousar em cima do Arco-íris ou mesmo até de uma nuvem.
Olhava esse misterioso círculo e sentia-se encantada com as cores do céu e o colorido do Mundo.
Nesses dias tornava-se Poetisa e um conjunto harmonioso de palavras saia da sua boca com enorme suavidade e doçura.
Eram palavras que faziam sonhar sonhos calmos e tranquilos com sabor a magia.

Conta-se que um dia Luamar pousou numa nuvem de algodão doce e que aí um desejo enorme se apoderou dela: Encontrar o Sol e com ele viver…

Mas o sol que Luamar desejava, caía cada dia sobre o horizonte e aos poucos afogava-se no mar, até não restar senão um clarão forte e alaranjado…aos poucos o lusco-fusco aproximava-se e por fim o sol era engolido pela grande boca da noite.

Diz-se que nesses dias Luamar não voava com as gaivotas… ficava sentada na rocha até ver o seu grande amor desaparecer. Nesse momento duas grossas lágrimas caíam dos seus olhos brilhantes e assim que se misturavam na água salgada transformavam-se em dois sacos…um negro como a noite, outro luminoso como o dia…

Conta quem viu que Luamar carregava os sacos dia e noite. Num depositava toda a sua alegria, noutro toda a sua tristeza. O mais leve carregava-o durante o dia. O mais pesado carregava-o durante a noite.

Dizem que foi assim que apareceram a tristeza e a alegria. Dois pesos para carregarmos toda a vida.


O Maltês



Durante alguns dias andei à malta pelas bandas de Leiria, pelo que não houve novidades nesta casa, mas como a porta quando muito está só encostada, fizeram bem em antrar.
Pulo do Lobo, conterrânea da minh'alma se dispenso todos de baterem à porta, até pq ela não tem mãozinhas, daquelas de fazer truz...truz e a madeira é rude e cheia de puas, não batas, entra logo, estás à vontade :)))))))

quinta-feira, agosto 26, 2004

Soltam-se os sonhos

Soltam-se os sonhos...cavalos selvagens galopam areias e... horizontes...de memórias
silhueta em contraluz...que contorno com as mãos...com as minhas mãos...sobre as tuas...
Há horas em que o sol beija o mar e...se sente a fusão alquímica dos corpos...quase celestiais...
Barcos vão há bolina...soprados por uma leve brisa...com olhos e...braços ou...abraços de mar...
Gaivotas voam num tempo...onde os teus cabelos...molhados...da chuva adormecem... sobre o meu peito
Sou marinheiro...navego na esperança...de um sorriso...tímido...que me diga...estou aqui
vem buscar-me...mar...
Leva-me contigo...e...eu vou contigo...para além...onde o verbo...se conjuga com todas as letras
Vou contigo colorir o tempo...este tempo...um tempo qualquer...sem tempo...onde nos possamos perder...e...encontrar...
Num jardim proibido corpos...dançam...ao som de uma balada...
tu és o meu fado...
dá-me sonhos...
que eu dou-te o mar...

O maltês

Hoje tou assim, fazer o quê? Digam-me!

segunda-feira, agosto 23, 2004

Noites de luar

Noites de luar
noites de sonho,
que me encantam.
Onde danço contigo...
madrugada
ao som de quinhentos milhões de guizinhos.

Penso que de alguma forma, retrato um pouco da alma dos malteses, tenho cá para mim que eram seres sonhadores, que se encantavam com as coisas bonitas da vida, e que por isso tinham sempre esperanças, e utilizo o plural propositadamente, porque acho que ninguém tem apenas uma esperança.

Agradecimento

Quero registar aqui o meu agradecimento a todos os que visitaram esta casa, frisando, Pulo do Lobo, ARC, e especialmente o ao-sul e o Praça da República, que sempre me foram criando água na boca com esta coisa dos blogs.

domingo, agosto 22, 2004

Coisas de malteses

O bichinho andava cá dentro há algum tempo, mais dia menos dia isto teria que acontecer, entrar neste mundo do bloguismo, que confesso já não é para mim de todo desconhecido.
Irei tentar não deixar mal visto este nosso Alentejo, outrora terra de malteses, e quero deixar aqui uma recordação do último que conheci, o ti Vil'Alva, que creio ninguém nestas redodezas o conhecia por outro nome, o qual certamente advinha da sua terra natal, a bonita Vila de Vila Alva, no concelho de Cuba.
O ti Vil'Alva, trabalhava apenas de vez em quando, e defendia de alguma forma a tese de que "enquanto houver dinheiro para vinho, não se compra roupa".
A verdade é que um maltês não tinha dono, tinha apenas uma manta, quando tinha, este blog será tb a minha homenagem aos malteses de outros tempos, que o Manuel da Fonseca tão bem retrata e aos malteses dos dos tempos modernos, de um tempo de globalização que desagrada a qualquer maltês que se prese, por estas e outras razões o cartão de visita é exactamente o poema "O maltês" do Manuel da Fonseca.

O Maltês

Em Cerromaior nasci.

Depois quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois tomei os caminhos
que havia e mais outros que
depois desses eu sabia.

E tanto já me afastei
dos caminhos que fizeram,
que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
caminhos que só eu sei.

Veio a guarda com a lei
no cano das carabinas.

Cercaram-me no montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminhos feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
tão distante e tão de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor.

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados:
- mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.

- Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!

...E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.
Inanimado,
tombei por fim a um canto.

E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada!...

("O Maltês", de Manuel da Fonseca)