Um dia o Sol nasceu na minha janela, não pediu licença, nem fez uso daqueles proformes protocolares habituais, chegou e entrou, a verdade é que a sala da minha janela se tornou mais quente.
Foi então que percebi que havia um outro mundo, com muito mais cores do que julgava até então, percebi que afinal todos temos uma parte física, mundana, terrena e uma outra parte, bem importante que vive dentro de nós, mas que geralmente fica nas profundezas do nosso ser e que distraídos nem damos por ela, essa é a nossa ala da espiritualidade, aquela que os poetas chamam alma, a parte mais bonita de nós. È nesse cantinho que guardamos as pessoas bonitas, é aí que residem os afectos, é aí que sentimos aquele toquezinho especial que nos diz que amamos esta ou aquela pessoa, que amamos esta ou aquela de uma forma especial, digamos que é nessa sala onde o Sol entra sem pedir licença, que vivem os sonhos, a saudade, o amor, o carinho, a vontade de abraçar, a vontade de beijar, a vontade de fazer amor, que não tem nada que ver com fornicar, é aí que sentimos que nos deliciamos com um texto de prosa bonita, com um poema, com um livro, com um filme, com uma música, com uma foto, com uma pintura, é nessa sala que vivem as sensações e as emoções, este é o jardim do nosso corpo.
Na verdade não abrimos as portas do jardim a quem queremos, não somos nós que temos a chave, as portas abrem-se ou fecham-se por elas próprias, são elas que sentem que se devem abrir os que se devem fechar e por isso não mostramos a todas ou a qualquer pessoa o nosso jardim. Não se passeia lá quem quer ou queremos, passeia-se lá quem tem o dom de se entender com as portas e mesmo com as manhas da fechadura.
Levamos por vezes muitos anos a descobrir esta parte de nós, alguns possivelmente nunca a descobrem, são os mais frios, os mais tristes, aqueles que resumem tudo a números, outros descobrem-na bastante cedo, esses são os de maior sensibilidade. Geralmente há sempre alguém que nos leva a essa descoberta, essa é talvez a grande descoberta da nossa vida, a grande paixão, aquela a quem amamos verdadeiramente, aquela que haja lá o que houver, não a queremos perder, não a conseguimos eliminar do nosso caminho, do nosso pensamento do nosso ser.
Por isso digo ainda de bem que um dia o sol nasceu na minha janela, ou melhor numa das minhas janelas, esse foi o dia em que o sol nasceu dentro de mim, sem que eu o autorizasse, sem que ele me pedisse licença, nasceu e mais nada.
Um texto onde os "nims" não entram
Há 7 anos
3 comentários:
Passei por aki.. :)
Belo texto Carlos, conhecimento q adiquirimos com o tempo com o sentir...
Um cheiro.
Passei por aki.. :)
Belo texto Carlos, conhecimento q adiquirimos com o tempo com o sentir...
Um cheiro.
Já lá vai o dia em que, também eu, comecei a permanecer mais tempo nesse jardim que tinha em casa... uma divisão que, até então, pouco frequentava, mas que um dia o Sol teimou em fazer as flores desabrochar.
É muito bonito... talvez seja a parte mais bonita da casa... e sabe-me bem passar lá o meu tempo... comigo!
Felicito-te pelo texto com o qual, me identifico na íntegra, e que é um belo testemunho da descoberta de nós próprios e da nossa verdadeira essência.
Deixo uma orquídea para colocares no teu jardim ;)
Beijinho
P.C.
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