segunda-feira, setembro 27, 2004

Maria do mar

Mestre Joaquim antigo marinheiro, agora pescador reformado, tornara-se num pescador de sonhos.
Quem por aquela praia passasse havia de ver na areia aquela silhueta franzina, sentada, de olhos postos no horizonte. Era ali o seu lugar, dizia que era ali o seu cais de partida, um dia quando a sua hora chegasse, queria terminar tudo ali, era aquela a última imagem que queria levar consigo. Decidira há muitos anos, quando em pleno Golfo da Biscaia se salvara de um naufrágio, que o mar o Sol aquela imensidão de areia, o voo livre das gaivotas e a melodia das vagas seria a sua última bagagem.
Era Domingo de manhã, o céu estava limpo como que pintado de um suave azul e o Sol começava a aquecer a areia apenas o mar que carinhosamente acariciava as rochas, quebrava o silencio mas não a tranquilidade daquela praia e daquele sono.
Mestre Joaquim, acordou estremunhado, parecera-lhe ouvir um choro, sim, um choro de criança, parecera-lhe um sonho, mas...ao levantar os olhos, ao longe no cimo de uma rocha um pequeno vulto parecia agitar-se, a maré estava a ficar cheia e a visão turva que a idade lhe trouxera, em nada ajudava, apenas o som lhe confirmava o choro, um choro que nunca lhe fora familiar, o ouvido não o traia, continuava a ser capaz de ouvir o zumbido de um mosquito.
De rompante entrou na água e tentou nadar, o mais rápido que o que restava daquele homem do mar conseguia, no entanto aquele mar calmo parecia-lhe ter agora mais força do que o mar enfurecido do Golfo da Biscaia, que há muitos anos vencera, esbracejava e esperneava, mas parecia não sair do mesmo sitio tal como o choro da criança, o que de alguma forma lhe dava força para continuar a debater-se com o mar.
De repente, aquele som pareceu-lhe mais próximo, mais intenso, foi como que se aquele choro lhe saísse de dentro da alma, dera um impulso mais forte ao corpo, acabara de ultrapassar a zona de rebentação como que impelido por uma força que nunca conhecera, uma força que lhe advinha de um deus, mais temido do que amado.
Aos poucos o cansaço ia tomando conta de si, mas mestre Joaquim tinha sido temperado com o sal do mar, antes partir do que vergar, desistir não fazia parte dele e à medida que a maré subia e se aproximava mais e mais do topo do rochedo, o choro tornava-se mais próximo por fim conseguira alcançar o pequeno rochedo onde se encontrava a criança, abriu a sua camisa, com as pernas e o tronco formou como que uma concha onde a aninhou para poder descansar o tempo que a maré lhe permitisse. Sabia que o regresso à areia seria mais fácil, não teria que nadar contra a maré, bem pelo contrário, bastar-lhe ia quase simplesmente flutuar e aproveitar a força das pequenas vagas, pois há alturas em que o mar traz tudo para terra, algumas... coisas desnecessárias que ele repele, outras coisas muito bonitas, como os sonhos ou a Vida.
Conta-se que Mestre Joaquim, a partir desse dia, se tornou um homem diferente, todos os dias continuava a ir para a praia, acompanhado da criança, mas sentia-se mais bonito, esquecera-se o que o atormentava e voltou a guardar aquilo a que chamava a sua bagagem, numa velha arca de madeira, perfurada pelo caruncho, na casa das coisas inúteis, onde proliferava aquele pó amarelo, fininho e muitas teias de aranha, grandes e negras.
Quem por aquela praia passasse, lá podia encontrar dois tempos que brincavam, como se fossem apenas um tempo, onde vivia a esperança e a alegria, de paredes de meias com um castelo... de areia...que o mar era incapaz de fazer desabar.
Muitas vezes Mestre Joaquim acordava, a meio da noite, sentava-se numa esteira junto de uma pequena cama improvisada, só para ver a criança dormir e pensava para com ele, como foi bom encontrar-te, Maria do Mar...



Esta é a minha homenagem aos organizadores das "Palavras Andarilhas", aos contadores e às outras pessoas bonitas, que nelas participara, para mim as "Palavras Andarilhas", são entre outras coisas, uma reunião de pessoas bonitas, gente que ousa sonhar e fazer sonhar, é sem dúvida a iniciativas de maior qualidade da Camara Municipal de Beja e da Biblioteca Municipal

sábado, setembro 18, 2004

Vem...

Há dias em que me apetece mostrar-te o mar, anda...dá-me a tua mão!
Quero sonhar-te entre algas e pequeninas conchas.
Quero mostrar-te o nascer do sol, em todo o seu explendor,
quero que sintas...que ele também é teu, que... também o podes ter dentro de ti.
Vem comigo, dá-me a tua mão, vamos caminhar... para além do horizonte.
Quero mostrar-te a infinidade do mar...e a pureza das suas águas.
Mais tarde, ao final do dia, veremos o por do sol
O mais belo de todos os pores do sol ...
Quero que sintas a magia das suas cores, acredita... elas também são tuas.
Vem...vem sentir-te embalada nas vagas ...e ouvi-las, quando docemente embatem no costado deste barco... que é a vida.
Por entre planetas e cometas, mostras-me o sorriso da lua e dás-me a tranquilidade do mar...
Jogaremos o jogo das estrelinhas e aprenderemos a distingui-las pelo brilho.
Ao olhá-las dirme-ás
- Á noite gosto de escutar as estrelas.
É como escutar quinhentos milhões de guizinhos...
Aprenderei a ouvi-las e pela madrugada descobrirás que todos os navios deixam o seu rasto no mar...
Vem...Vem comigo... dá-me a tua mão...




Nota: Há algumas casas onde este maltês gostaria de ir deixando uma mensagensinha de condu em vez, mas a verdade é que são fechadas à chave e não sei abri-las, estou a lembrar-me do caso do "monte da" Pedra, creio que do "monte do" Sonho Meu, assim somo assim agradecia que me explicassem como se abre a fechadura :)

terça-feira, setembro 14, 2004

Papoila

É a sensação de belo
que me encanta em ti

papoila

a mais bonita flor dos trigais
ondulantes e verdes
que faz renascer o mar.


foto: o maltês

quarta-feira, setembro 08, 2004

Conto de Luamar

Luamar era filha do Mar e da Lua.
Tinha nascido numa rocha de bonitas formas entre gaivotas e andorinhas do mar.
Desde muito cedo adorava olhar o horizonte.
Sentava-se no ponto mais alto dessa rocha e aí tecia todos os seus sonhos.
Voava com as gaivotas e por vezes chegava até a pousar em cima do Arco-íris ou mesmo até de uma nuvem.
Olhava esse misterioso círculo e sentia-se encantada com as cores do céu e o colorido do Mundo.
Nesses dias tornava-se Poetisa e um conjunto harmonioso de palavras saia da sua boca com enorme suavidade e doçura.
Eram palavras que faziam sonhar sonhos calmos e tranquilos com sabor a magia.

Conta-se que um dia Luamar pousou numa nuvem de algodão doce e que aí um desejo enorme se apoderou dela: Encontrar o Sol e com ele viver…

Mas o sol que Luamar desejava, caía cada dia sobre o horizonte e aos poucos afogava-se no mar, até não restar senão um clarão forte e alaranjado…aos poucos o lusco-fusco aproximava-se e por fim o sol era engolido pela grande boca da noite.

Diz-se que nesses dias Luamar não voava com as gaivotas… ficava sentada na rocha até ver o seu grande amor desaparecer. Nesse momento duas grossas lágrimas caíam dos seus olhos brilhantes e assim que se misturavam na água salgada transformavam-se em dois sacos…um negro como a noite, outro luminoso como o dia…

Conta quem viu que Luamar carregava os sacos dia e noite. Num depositava toda a sua alegria, noutro toda a sua tristeza. O mais leve carregava-o durante o dia. O mais pesado carregava-o durante a noite.

Dizem que foi assim que apareceram a tristeza e a alegria. Dois pesos para carregarmos toda a vida.


O Maltês



Durante alguns dias andei à malta pelas bandas de Leiria, pelo que não houve novidades nesta casa, mas como a porta quando muito está só encostada, fizeram bem em antrar.
Pulo do Lobo, conterrânea da minh'alma se dispenso todos de baterem à porta, até pq ela não tem mãozinhas, daquelas de fazer truz...truz e a madeira é rude e cheia de puas, não batas, entra logo, estás à vontade :)))))))