quinta-feira, agosto 26, 2004

Soltam-se os sonhos

Soltam-se os sonhos...cavalos selvagens galopam areias e... horizontes...de memórias
silhueta em contraluz...que contorno com as mãos...com as minhas mãos...sobre as tuas...
Há horas em que o sol beija o mar e...se sente a fusão alquímica dos corpos...quase celestiais...
Barcos vão há bolina...soprados por uma leve brisa...com olhos e...braços ou...abraços de mar...
Gaivotas voam num tempo...onde os teus cabelos...molhados...da chuva adormecem... sobre o meu peito
Sou marinheiro...navego na esperança...de um sorriso...tímido...que me diga...estou aqui
vem buscar-me...mar...
Leva-me contigo...e...eu vou contigo...para além...onde o verbo...se conjuga com todas as letras
Vou contigo colorir o tempo...este tempo...um tempo qualquer...sem tempo...onde nos possamos perder...e...encontrar...
Num jardim proibido corpos...dançam...ao som de uma balada...
tu és o meu fado...
dá-me sonhos...
que eu dou-te o mar...

O maltês

Hoje tou assim, fazer o quê? Digam-me!

segunda-feira, agosto 23, 2004

Noites de luar

Noites de luar
noites de sonho,
que me encantam.
Onde danço contigo...
madrugada
ao som de quinhentos milhões de guizinhos.

Penso que de alguma forma, retrato um pouco da alma dos malteses, tenho cá para mim que eram seres sonhadores, que se encantavam com as coisas bonitas da vida, e que por isso tinham sempre esperanças, e utilizo o plural propositadamente, porque acho que ninguém tem apenas uma esperança.

Agradecimento

Quero registar aqui o meu agradecimento a todos os que visitaram esta casa, frisando, Pulo do Lobo, ARC, e especialmente o ao-sul e o Praça da República, que sempre me foram criando água na boca com esta coisa dos blogs.

domingo, agosto 22, 2004

Coisas de malteses

O bichinho andava cá dentro há algum tempo, mais dia menos dia isto teria que acontecer, entrar neste mundo do bloguismo, que confesso já não é para mim de todo desconhecido.
Irei tentar não deixar mal visto este nosso Alentejo, outrora terra de malteses, e quero deixar aqui uma recordação do último que conheci, o ti Vil'Alva, que creio ninguém nestas redodezas o conhecia por outro nome, o qual certamente advinha da sua terra natal, a bonita Vila de Vila Alva, no concelho de Cuba.
O ti Vil'Alva, trabalhava apenas de vez em quando, e defendia de alguma forma a tese de que "enquanto houver dinheiro para vinho, não se compra roupa".
A verdade é que um maltês não tinha dono, tinha apenas uma manta, quando tinha, este blog será tb a minha homenagem aos malteses de outros tempos, que o Manuel da Fonseca tão bem retrata e aos malteses dos dos tempos modernos, de um tempo de globalização que desagrada a qualquer maltês que se prese, por estas e outras razões o cartão de visita é exactamente o poema "O maltês" do Manuel da Fonseca.

O Maltês

Em Cerromaior nasci.

Depois quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois tomei os caminhos
que havia e mais outros que
depois desses eu sabia.

E tanto já me afastei
dos caminhos que fizeram,
que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
caminhos que só eu sei.

Veio a guarda com a lei
no cano das carabinas.

Cercaram-me no montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminhos feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
tão distante e tão de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor.

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados:
- mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.

- Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!

...E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.
Inanimado,
tombei por fim a um canto.

E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada!...

("O Maltês", de Manuel da Fonseca)